Os meus passos de criança não deixavam pegadas,
a tua mão de areia e de espuma
atraía-me para o teu seio
e eu partia numa braçada confiante
em direcção ao azul reluzente ao nível dos olhos
que me chamava sempre mais longe
em busca da vaga que seria enfim minha.
Hoje olho-te, mar,
e lembro-me das lágrimas vertidas,
do sal amargo do regresso,
da tua dor cambiante
que me traz o esquecimento
e eu permaneço lá, apaziguada e feliz,
a olhar a maré do presente
que já não é para mim o chamamento
da tua imortal imensidão.
Isabel Meyrelles (Maio, 1997)
***
Não sei quem sou. Mas heide descobrir. Se o destino e Deus assim o quiser.
Os que afastei de mim, os que deixei para trás, talvez um dia me perdoem. Talvez nos voltemos a encontrar nesta estrada ou noutra qualquer.
Sei que já nada será como dantes. Muito se perdeu, pouco se ganhou. Mas ganhou-se alguma coisa. Ganhou-se a experiência, que as feridas, que hoje cicatrizam, nos dão.
Sim, eu sei. Se hoje olho ao espelho e não vejo ninguém nem nada, a culpa é minha. E sim, eu sei, que se hoje estou só a culpa é igualmente minha. A complexidade, afinal, não é nada de bom. Só nos torna seres da solidão, e nada mais.
Não prometo mudança. Prometo empenhamento. Prometo que será como o destino assim o quiser.
Se algum dia desistir, mais uma vez, de mim, do mundo e do destino, que desista. Se sofrer, é porque o mereço. Se morrer é porque o mundo pertence aos fortes.