Nas manhãs de nevoeiro saio pela cidade vazia, em busca de não sei bem o quê. São os meus pés que me guiam, sem destino, impulsionados por uma força misteriosa.
Vou em silêncio, porque as palavras já as gastei no quotidiano mundo sem brilho. E é assim, em silêncio que tudo vem até à minha mente, sem pedir. Vêm as lembranças, os desejos, os olhares, os sentimentos e até as palavras. Palavras... Sim, o mais fácil é soltá-las ao mundo, e deixá-las fluir. Por ser tão fácil, os sábios chamaram-lhe de ritual vulgar, esse tal falar. E aí o silêncio teve o seu mérito reconhecido. A palavra é prata, o silêncio é ouro, como alguém algures disse.
No ouro da manhã de orvalho, deixei-me ir. Podia jurar que se fechasse os olhos, iria ter onde o meu coração clama por estar, e sei agora que ele é a força impulsionadora dos meus pés.
Viajei por muitos kilómetros, palmilhei a terra dos Homens e os recantos dos Deuses esquecidos. Depois de passar a barreira do silêncio, veio o som do Mundo. Ouvi sons de tristeza, agonia, de pesar, de alegria, de amor. E depois o silêncio novamente.
Viajei pelas estações, senti o renovar da vida pela Primavera, o calor do Sol no Verão, o reciclar das árvores no Outono e o frio sábio do Inverno.
Vi muitos olhares perdidos, senti a indiferença das grandes cidades, saboriei o elitismo do conhecimento. E os sorrisos... Tantos sorrisos. Uns verdadeiros, sinceros. Outros sorrisos fruto do cansaço, e outros do conformismo daqueles que deixam a vida passarem por si sem se agarrarem a ela.
Parei no sítio onde desejava estar naquele momento. Que sítio era esse?
Bom...
Quem tem imaginação pode ir a qualquer lado. Solta essas amarras e deixa-te fluir. Sente o vento que te bate nas costas, como que a empurrar-te para essa longa viagem. Solta os teus sonhos mais selvagens e impossíveis. Aí, depois de viajares por esses mundos tão variados e coloridos que são fruto da tua imaginação e que residem no teu desejo, volta a ti.
Quando abrires os olhos já saberás o caminho a tomar. Segue sem medo, pois pelo caminho haverá sempre pessoas especiais. E o maior prémio estará perdido num desses atalhos da vida. Um grande amor, um grande sonho ou simplesmente a felicidade no conceito que inventas-te para ti.
Simplesmente vai. Já vejo as asas inquietas à espera do próximo vôo. Vai, deixa-te levar.
Eu acredito em ti.