Enquanto caminhava sem destino, perguntava-me como eu cheguei aqui... Ainda me lembro daquela pessoa, de há 15 anos atrás. Chamo-a pessoa e não “eu”, porque neste momento nem tampouco sei o que esse “eu” quer dizer. Ando à deriva à demasiado tempo, que me vejo como um oceano de marés inconstantes e desconectas.
Essa pessoa, sabia falar e sabia escrever. Ela desbravava bem o caminho por entre palavras, filosofias, certezas. Ela dava pequenos passos, mas cada passo pisava firme em territórios de esperança. Era bom ser assim, livre e ingénua.
Tudo o que foi acontecendo, na minha cabeça são como pequenas correntes, que saíam dos trilhos por onde os meus pés descalços pisavam. Assim, o choro compulsivo, a dor dilacerante, deixaram as amarras se pregarem à pele, como se fossem uma continuação de mim mesma. Fui ficando para trás, de costas voltadas para aquela pessoa, para aquelas palavras, para todas as certezas. Acostumei-me à desconfiança, e abracei a solidão.
Só eu sei. Quem vê de fora, só vê alguém inconveniente, que não é articulada, que é gorda e desleixada. Alguém apática, que não sabe se organizar.
Mas cheguei à conclusão que essa imagem, que o que os outros vêem pouco me importa. Os meus olhos, aqui dentro, aqui escondida, escolhem o silêncio. Existe em mim esse silêncio, o silêncio que se houve à beira mar. Existem as ondas, existem os pequenos ruídos. Quem se senta na praia e olha no horizonte não sabe o que se esconde abaixo da superfície.
Ninguém sabe... Todos julgam. Tenho saudades de ter prazer em escrever, em conversar. Tenho saudades de me sentir livre. Há uma tristeza e uma melancolia, que se apegaram a mim, tal como as amarras. Somente eu as sinto.
Quem me pode julgar, então? Alguém consegue ver através da superficie?